Onde foi parar o amor de Toledo? Uma investigação de Chivo Garcia

Chivo Garcia
5 min readAug 19, 2021

Conforme noticiado pelo site Radar B.O na tarde dessa quarta-feira (18) foi percebido que alguém tomou cabo do amor existente no letreiro do Lago Municipal na cidade de Toledo, interior do Paraná. O letreiro que expunha a emotiva declaração “Eu ❤️ Toledo” aos pés de seu cartão postal foi inadvertidamente alterado para um estranho e simplório “Eu Toledo”. Muito se debate na boca miúda a identidade do possível ladrão, vândalo ou interventor artístico e sobre suas possíveis motivações ao cometer tão bruto e vil ato que deixou a cidade de cabelos em pé. Tomado dessa dor e coberto pelo manto do jornalismo investigativo, Chivo Garcia, escritor e carnavalesco local foi a fundo nessa macabra história de ódio pera recuperar o amor.

Hipótese 1 — A “reparação da prefeitura”
Horas após a publicação o site Radar B.O atualizou a notícia para incluir o “fato” de que na verdade o coração foi “recolhido” pelo poder público para fazer “concertos” devido a “avarias”. Balela, balela das brabas. Logo quando entrei em contato com as minhas fontes dentro da esfera política toledana fui informado de que o buraco era muito mais embaixo, os reparos na verdade foram uma história plantada em conluio entre as lideranças do governo municipal juntamente a elite local e seus carros jeep para passar a noção de normalidade na população e não instaurar o caos, a verdade amigo leitor é que esses patifes não fazem a mínima ideia, e agora correm contra o tempo na esperança de que consigam fabricar outro amor em tempo para que os buracos nessa sórdida mentira não sejam percebidos pela astuta população toledense. Se não foi a prefeitura, então foi quem?

Hipótese 2 — Terrorismo filosófico
Dei umas boas fungadas no ar toledano, situando bem em meu olfato as notas suínas e de soja que dão tão emblemático odor ao nosso pequeno paraíso, e logo me veio minha cabeça “só pode ser coisa de comunista!”. Fui até a UNIOESTE, onde são feitos os comunistas, para descobrir se ali teria algum resquício do caroço deste angu. A direção me colocou em contato com uma professora da área da filosofia e então começamos a tirar a limpo esse lamacento imbróglio.

— Certamente poderia ser uma manifestação filosófica de ação direta voltada a incompletude do ser e a sua respectiva suscetibilidade aos fenômenos naturais, talvez até uma sinalização à virtude encontrada nos trabalhos de Immanuel Kant ou Hume

Não entendi o que aquelas palavras significavam juntas umas das outras mas a professora continuou:

— Veja bem, só o amor foi retirado, o que restou foi “Eu toledo” mas um “eu” acima do Toledo, o que também é o triunfo do ser sobre a intempérie do amor elevando-o a conquista de Toledo como o além-homem de Nietzsche.

Na sala, havia também um professor de ciências sociais que do canto da sala disse

— Isso aí é uma manifestação cultural.

Ninguém ali falava lé com cré, esse povo metido a besta claramente estava tentando me tapear, então procurei de objetivo colocar os pontos nos is e fazer a pergunta principal: Então foi um aluno daqui?

Olha…— Disse esfregando a careca com um ar despreocupado o professor — O pessoal da química fez um estudo junto ao pessoal da estatística recentemente e concluiu que quando o restaurante popular universitário está fechado o índice de manifestações e vandalismos por parte dos estudantes cai em 80%, possivelmente devido a falta de nutrição qualificada… Então dificilmente foi um aluno daqui, e ainda que fosse, o pessoal é mais fã de pichações, então não, não faz o estilo.

Estava devastado, passei 40 minutos ouvindo nomes de franceses desconhecidos para nada. Se não os comunistas e nem os políticos, quem seria capaz de um mal tão nefasto?

Hipótese 3 — Os evangélicos, óbvio
Pensei que talvez os neopentecostais estariam dessa vez se postando contra o amor entre indivíduos e cidades de olho em 2022 já que o preconceito contra gays saiu de moda, com esse intuito liguei para a congregação da cidade, mas o que parecia uma promissora hipótese caiu por terra com facilidade.

“A gente não faz esse tipo de coisa de graça” — Respondeu o representante do outro lado da linha.

Hipótese 4 — Amar é para os fortes
Depois de passar toda a quente tarde de quarta feira investigando e batendo perna estava exausto, fui de novo a cena do crime, e longe debaixo de uma sombra fiquei fitando o letreiro desmembrado e divagando. Eu não sei se vocês já tiveram a oportunidade de estar com uma pessoa que te faz sentir como se estivesse no único lugar do mundo que importava naquele momento, a oportunidade de se encontrar a exclusividade e o luxo no acaso ordinário de sentir aconchego no riso besta do outro. As vezes, me vinha a cabeça, a história de dois jovens quase inconsequentes que se amam ainda sem nem saber muito o porque e nem para onde, mas as vezes o tipo de amor inevitável que te faz arrancar de bobeira um coração cenográfico de plástico pra ver de novo o sorriso dela gargalhando ao dizer “Meu Deus você é maluco!”. As vezes é isso, nem todos os mistérios são dignos de serem descobertos, as vezes o centro de uma história tão sem sentido se faz bem explicada a luz de uma paixão, as vezes o mistério não pertence a cidade, mas a dois aventureiros, um que arranca corações para explicar seu amor, e outro que está agora em casa rindo com um coração de um metro e vinte escondido embaixo da cama para que sua família não encontre e descubra que ela aprendeu a amar.

Hipótese 5 — Até que tá barato
Desisti de minha busca, todo investigador tem seu caso que nunca será resolvido, seria esse o meu? Nunca mais encontraríamos o amor próprio de um povo por sua cidade? Seria possível o letreiro ter sido vitimado enquanto os corredores do horto em suas eternas voltas de ritual de acasalamento, se meterem numa briga tentando se amostrar cada vez mais para as femêas de legging? Difícil. Na volta pra casa com minhas frustrações na mochila e os fones nos ouvidos percebi que eu não tinha mais cigarro, e ao parar na Banca do Léo nos confins da Pioneira fiz a improvável descoberta, estava ali o amor, com todas suas avarias sendo vendido por 80 reais num kit com gelo e energético.

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